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quarta-feira, 2 de julho de 2025

Josef Klicka - "L´orgue romantique tchèque " (2006)







Josef Klicka (1855-1937) compôs principalmente para órgão (órgão de tubos) e este álbum contém 4 peças para esse instrumento a solo. Tocados num único movimento, são temas longos, grandiosos, dignos da maior das catedrais.








terça-feira, 13 de maio de 2025

 Georg Heym - "E os cornos do verão emudeceram..."


Deixo aqui mais um poema do mesmo livro do post anterior, ou seja, da antologia poética sobre o expressionismo alemão, editora Ática, e com tradução de João Barrento. Georg Heym nasceu em 1887 e morreu em 1912. "E os cornos do verão emudeceram..." foi escrito em 1911.








E OS CORNOS DO VERÃO EMUDECERAM...


E os cornos do verão emudeceram na morte das campinas,
Nuvem após nuvem se passou para a escuridão.
Mas as florestas bordejantes minguaram, perdidas,
Como acompanhantes de caixões embuçados em luto.

Fortemente, a tempestade cantou no terror de campos empalidecidos,
Entrou pelo choupal e fez vergar uma torre branca.
E como lixo varrido pelo vento, na terra vazia,
Lá em baixo uma aldeia jazia, amontoado de telhados cinzentos.

Mas mais para diante, até ao fundo do pálido horizonte,
Erguiam-se as tendas dos cereais de outono,
Cidades sem conta, mas vazias e esquecidas,
E sem ninguém passeando pelas vielas.

E a sombra da noite cantava. Já só os corvos
Erravam à chuva, sob nuvens de chumbo.
Solitários, ao vento, como na escuridão das frontes
Se escapam negros pensamentos nesta desconsolada hora.



       GEORG HEYM (tradução de João Barrento, do livro "Expressionismo alemão, Antologia poética")

sexta-feira, 28 de março de 2025

 Alfred Lichtenstein - "A caminho do manicómio"


“A caminho do manicómio”, texto, poema, do escritor alemão Alfred Lichtenstein (1889 -1914)  terá sido escrito em 1912 e foi publicado postumamente em 1962, juntamente com outros poemas, num livro com o título  "Gesammelte Gedicht" (em portugês creio que será qualquer coisa como "Poesia Reunida"). O autor, creio, não publicou nada em vida, pelo menos em livro. Morreu na frente de batalha durante a primeira guerra mundial.






A CAMINHO DO MANICÓMIO


Em ruidosas linhas as gordas carripanas
Passam por casas que parecem sepulturas.
Acocoram-se às esquinas carroças de bananas.
Um pouco de esterco alegra crianças duras.

Bestas humanas vão passando alienadas
No cenário de miséria da rua viva e baça.
Brotam trabalhadores de portas arruinadas.
Tranquilo, homem cansado atravessa uma praça.

Arrasta-se um caixão atrás de uma parelha,
Mole como verme, rua abaixo sem ruído.
E a cobrir tudo isto, farrapagem velha – 
O céu… com ar paganizado e sem sentido.






ALFRED LICHTENSTEIN (tradução de João Barrento, do livro "Expressionismo alemão, Antologia poética")


sexta-feira, 21 de fevereiro de 2025

 Runemagick - "Envenom" (2015)





E enquanto a fúria do tornado sobe
a percorrer o mar todo às guinadas
era como se ouvisse a saraivada
do fogo que comia toda a terra
com os dentes febris do pesadelo




NOÉMIA SEIXAS, Navio fantasma (do poema “O cão da morte ladrou”)









segunda-feira, 27 de janeiro de 2025

 Mário Dias Ramos  - "O Logro" (1999)




Na realidade, esta obra do escritor Mário Dias Ramos foi editada pela primeira vez em 1963 e esta publicação mais recente é uma segunda edição, uma edição especial pela editora Dafnis (que creio já não existir) e com texturas, imagens, fotografias, de Miguel Louro, num estilo bem escuro, naturalmente em sintonia com o carácter do texto. Aliás, é até estranho que o livro tenha escapado incólume pela censura da época. Pelo menos não vi nada em sentido contrário.


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“…caímos num poço devasso e profundo, negro e repulsivo. O empregado traz-nos um café tão preto como a sua existência servil e angustiada. À nossa volta caras hostis afundam-se em jornais abertos com colunas de notícias que mentem num esgar de compromisso pactuante. O fiscal observa a ordem do serviço. Uma multidão entra e sai, apressadamente, com um ar indefinido no rosto. Intelectuais dissolutos olham-se na penumbra de um horizonte que se fechou hermeticamente. Um sol que brilha falso e não aquece os homens, envolve este ambiente de insalubridade mental e irreconciliação humana. Entretanto, nada sucede. Os homens nascem e morrem e, de um estado ao outro, a velocidade é a mesma do som. Nascem e morrem sem dar quase por isso…”




MÁRIO DIAS RAMOS , O Logro