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quarta-feira, 28 de dezembro de 2022

 Ancestors - "Whispers", "First Light" e "The Warm Glow"


Os 3 títulos em cima são composições da banda estadunidense Ancestors. As primeiras duas fazem parte do álbum «In Dreams and Time» (2012). A outra do álbum «Suspended in Reflections» (2018) 





O que está pintado no ar é um negro esboço no chão. O esboço e a pintura equivalem-se: um sonho febril a óleo vivo e um sonho morto a carvão arrefecido… Tudo fumo e cinza, tudo ilusão; uma substância vaga e plástica desenrolando-se em fantasmagorias de paisagens.

TEIXEIRA DE PASCOAES O pobre tolo     







quarta-feira, 16 de novembro de 2022

"Colour Me Kubrick: A True...ish Story" ("Identidade Kubrick") - Brian W. Cook (2005)




A história surreal de um homem que no início da década de 90 se fazia passar pelo realizador Stanley Kubrick.



segunda-feira, 3 de outubro de 2022

Colette Peignot - Eu não habitava a vida mas sim a morte


Colette Peignot (1903 - 1938) não publicou nada em vida. Em 1939 sai no entanto uma edição que inclui vários textos (poemas, cartas, pensamentos) da autora, uma obra à qual se deu o título de «O Sagrado». É desse livro que se extrai o texto para este blog.




… Eu não habitava a vida mas sim a morte.
Tão longe quanto me lembro
os cadáveres erguiam-se diante de mim:
«Bem podes desviar-te, esconder-te, negar…
Tu és da família e serás dos nossos esta noite.»
E discorriam, meigos, amáveis e sardónicos
ou talvez,
à imagem desse cristo, o eterno humilhado, o insano carrasco
estendiam-me os braços.
Do Ocidente ao Oriente
de país em país
de cidade em cidade
eu caminhava por entre as covas.
Cedo fiquei sem chão.
Fosse relvado ou calçada
eu flutuava
suspensa entre o céu e a terra
entre o tecto e o soalho.
Meus olhos doídos e revirados
apresentavam ao mundo seus lóbulos fibrosos
minhas mãos, ganchorras mutiladas
transportavam uma herança insana.
Cavalgava as nuvens
com ares de louca desgrenhada
ou de mendiga de amizade.
E sentindo-me um tanto monstra
já não distinguia os humanos
que entanto amava.
Viram-me aterrar
no céu de Diorama
onde congelada atá aos osso
petrificava lentamente
até me tornar
um perfeito ornamento.



COLETTE PEIGNOT, O Sagrado (tradução de André Tavares Marçal)


terça-feira, 6 de setembro de 2022

 Hilda Doolittle - a casinha


O texto que se segue, sem título, faz parte do livro «Notas sobre o pensamento e a visão», publicado originalmente em 1919 com o título «Notes on Thought and Vision». Hilda Doolittle (1886-1961) assinava com o pseudónimo H. D.






    As nossas mentes, todas as nossas mentes, são como casinhas enfadonhas, construídas mais ou menos da mesma forma – uma cidadezinha enfadonha com filas de vivendas separadas, e aqui e ali uma casa mais pretensiosa, afastada das outras; mas na sua essência, vistas à distância, aquela com as outras, são todas pardacentas, todas cinzentas.     
    Cada casinha confortável acoita uma alminha confortável – e uma parede ao fundo impede completamente qualquer comunicação com o mundo além.
    A maior preocupação do homem é aquecer a sua casinha e fortalecer a sua pequena parede.




HILDA DOOLITTLE, Notas sobre o pensamento e a visão (tradução de Leonor Castro Nunes)




terça-feira, 12 de julho de 2022

 

JOSÉ 


És sem graça. Trazes túnicas para não tirar ao deitar.

És sem graça. Os percevejos pousam livremente no peito do teu pé.

Na banca do talho reparas nas carnes mortas.

Repara também como as moscas só param demoradamente nos pedaços parados.

Não precisas de olhar para o lado. Não há nada a dar socorro à tua ereção.

Exalas monotoneísmo dentro do teu eu.

Já vi um Hematófago enorme a trepar a parede do teu quarto enquanto dormias.

Queres perder todo o sangue sem dares por isso?



Miguelsalgado, Escuro


quarta-feira, 29 de junho de 2022


MARIA


Um feto fura pela vagina peluda e a escorrer sangue. As pernas abertas estão inundadas de suor. Maria grita e chora. Tem cuspe no queixo. Força com os dentes. É agarrada. O sítio cheira mal.



Miguelsalgado, Escuro

terça-feira, 24 de maio de 2022

 "Los Santos Inocentes" - Mario Camus (1984)




Homens que são como lugares mal situados
Homens que são como casas saqueadas
Que são como sítios fora dos mapas
Como pedras fora do chão
Como crianças órfãs
Homens agitados sem bússola onde repousem

Homens que são como fronteiras invadidas
Que são como caminhos barricados
Homens que querem passar pelos atalhos sufocados
Homens sulfatados por todos os destinos
Desempregados das suas vidas

Homens que são como a negação das estratégias
Que são como os esconderijos dos contrabandistas
Homens encarcerados abrindo-se com facas

Homens que são como danos irreparáveis
Homens que são sobreviventes vivos
Homens que são sítios desviados
Do lugar



DANIEL FARIA , Homens que são como lugares mal situados (excerto de um texto sem título)



terça-feira, 26 de abril de 2022

Vladimir Vlasov - "Improvisação para violoncelo e orquestra"




O compositor:

Vladimir Vlasov (1903-1986), compositor russo, estudou violino no conservatório de Moscovo e foi também maestro, professor, etnomusicólogo e director artístico. Compôs maioritariamente música vocal.



"Improvisação para violoncelo e orquestra"


"Estava a passar cá fora com dois amigos, e o Sol começava a pôr-se – de repente o céu ficou vermelho, cor de sangue – Parei, sentia-me exausto e apoiei-me a uma cerca – havia sangue e línguas de fogo por cima do fiorde azul-escuro e da cidade – os meus amigos continuaram a andar e eu ali fiquei, de pé, a tremer de medo – e senti um grito infindável a atravessar a Natureza."


EDVARD MUNCH





terça-feira, 15 de março de 2022

 Joaquim Pessoa - "Fly" (1983)



Voo para um arco-íris engolido pela escuridão.


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     Depois do homem morrer a casa tornou-se amarela e maior porque tudo havia sido levado. Vazia, como um coelho sem tripas. O silêncio é agora de máscaras, sem olhos e sem água. Ouve-se o pó, outra lâmpada que no escuro se desfaz em lentidão opaca. O livro, o fogo, não existem mais. No linho da quietude o ar branco se interroga.
     A borboleta louca por lá anda em horas grandes de martírio esvoaçado, florescendo no sonho encoberto que a casa mastiga: é Fly quem tudo sabe e dá conta. Fly, que vestiu da sombra os mantos e bebeu da noite os duros copos da insónia.



JOAQUIM PESSOA, Fly




(editora: Litexa Portugal)

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2022

 "Amour Fou" ("Amor Louco") - Jessica Hausner (2014)




Heinrich von Kleist e a sua relação suicida com Henriette Vogel. Nas palavras do próprio escritor:

"Morro pois não me resta mais nada na terra para aprender e conquistar."