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terça-feira, 15 de março de 2022

 Joaquim Pessoa - "Fly" (1983)



Voo para um arco-íris engolido pela escuridão.


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     Depois do homem morrer a casa tornou-se amarela e maior porque tudo havia sido levado. Vazia, como um coelho sem tripas. O silêncio é agora de máscaras, sem olhos e sem água. Ouve-se o pó, outra lâmpada que no escuro se desfaz em lentidão opaca. O livro, o fogo, não existem mais. No linho da quietude o ar branco se interroga.
     A borboleta louca por lá anda em horas grandes de martírio esvoaçado, florescendo no sonho encoberto que a casa mastiga: é Fly quem tudo sabe e dá conta. Fly, que vestiu da sombra os mantos e bebeu da noite os duros copos da insónia.



JOAQUIM PESSOA, Fly




(editora: Litexa Portugal)