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sexta-feira, 26 de abril de 2024

 Rezn - "Chaotic Divine" (2020)





Um caminho de sombra irrompe 
por entre os escombros.
Um deserto, um fio de água
dentro da boca do homem,
um pão que brilha no solo
entre o fogo e as pedras
tatuadas de rugas e silêncio.

Há uma estrela insubmissa
no caos da tua noite. Um caminho
ainda verde, pulverizado
por entre os escombros.



CASIMIRO DE BRITO,  Jardins de Guerra (poema "O Caminho")







terça-feira, 19 de março de 2024

 Sebastião Alba - "Albas" (2003)






Livro que reúne vários textos (cartas, poemas, pensamentos,…) dispersos (a maior parte do que escreveu não foi publicado em vida), escritos, muitos deles, creio, numa fase em que Sebastião Alba (1940 - 2000) já vivia como sem-abrigo. O livro inclui também manuscritos, fotografias e uma importante introdução sobre a vida e obra do autor.




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27/11/83

Meu Deus, eu não tenho medo de ti, mas das tuas criaturas, de mim. Como foste capaz disto: de nos assustar?



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Em cada manhã travo uma luta, que eu sei perdida, com o demónio do álcool. Mas ele é cada vez mais do meu tamanho.
Mas ouve a voz do pai: “Se continuas assim, não duras 6 meses”; a do João, nosso primo: “qualquer dia alguém me diz que foste encontrado aqui numa valeta”. E estão mortos. Lembras-te do que dizia um grande escritor francês, Albert Camus? “A morte é um acontecimento que me dá razão”. Sabes o que o Camus queria significar com aquilo, ele que, já Prémio Nobel da Literatura, morreu num acidente de viação, contra uma árvore? Vão-se lixar.





SEBASTIÃO ALBA, Albas


(editora: quasi edições)

terça-feira, 6 de fevereiro de 2024

 Henri Roorda -  "O Meu Suicídio" (1993)





Publicado originalmente em 1925, com o título “Mon Suicide”, esta obra do escritor suíço Henri Roorda (1870-1925) é uma reflexão, em larga medida uma crítica, da vida humana, da vida humana em sociedade, um olhar, irónico, mordaz, necessariamente dramático, sobre si próprio, um balanço de vida, uma explicação para a via suicida.

Mais recentemente, em 2020, saiu um nova edição pela editora Snob


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Vou meter uma bala no coração. Far-me-á de certeza doer menos que na cabeça.
Não temo o que me aconteça depois, porque tenho fé: sei que não vou comparecer diante do Juiz Supremo. Só na terra é que há «tribunais cómicos».
Não obstante, irei comover-me. Para estar mais à vontade, vou beber uma meia garrafa de Porto velho.
Se calhar vou falhar. Se as leis fossem feitas por homens caridosos, facilitava-se o suicídio aos que querem ir.




HENRI ROORDA, «O Meu Suicídio» (tradução de Rui Caeiro)




(editora: &etc)

sexta-feira, 5 de janeiro de 2024

 Frayle - "Skin & Sorrow" (2022)








As flores crescem
e são arrancadas para murchar
Admiram-se numa jarra
num prazer inconsciente
de olhar até morrer



ÓSCAR MANUEL DE CARVALHO, Plenitude da morte ao contrário (do poema “Lu(z) em campos de Primavera)