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quarta-feira, 9 de dezembro de 2020

 Earth Drive - "Stellar Drone" (2017)



1.Lactomeda (01:49)
2.Known by the Ancients (07:01)
3.Dead Blood for the Royal Weather (07:14)
4.Two Temple Place (09:36)
5.Stellar Drone (10:59)
6.Are we Drowning in Digits (06:13)
7.Magical Train (05:00)


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Há neste abismo uma estrela a morrer
Há um cometa vibrante que rompe as sombras
Há um saber antigo que nos foge
São memórias desvanecidas em cinza




HENRIQUE RISQUES PEREIRA, do livro «Transparência do Tempo»




terça-feira, 3 de novembro de 2020


LABIRINTO


Ia com a cabeça direcionada para o chão, como sempre, e tudo ia como esperado, quando alguém repentinamente parou à frente dele. Ele tentou contornar essa pessoa sem nunca tirar os olhos do chão, mas quando se movia para isso a pessoa movia-se também na sua direção e não o deixava passar. Pediu licença para passar também com os olhos no chão mas também não adiantou. Pressentiu o pior. Alguém que o conhecia tinha-se posto à frente dele só para o chatear e agora teria de pôr os olhos na cara dessa pessoa se queria prosseguir. E, pior ainda, teria de estabelecer uma indesejada conversa, parecer bem disposto, falar pelo menos algumas palavras que agradassem àquela pessoa que não saía da frente. Levantou então os olhos na direção da cara da pessoa. À sua frente estava o Minotauro.



Miguelsalgado, vidro duplo

terça-feira, 29 de setembro de 2020

 "Baran" - Majid Majidi (2001)





«Em 1979 a União Soviética invadiu o Afeganistão. Quando os soviéticos se retiraram 10 anos depois, o país tinha-se tornado uma sombra do que fora.

A devastação aliada a uma guerra civil, o domínio brutal do regime talibã e três anos de seca, levaram milhões de afegãos a fugir do país.

A ONU calcula que o lrão acolhe hoje 1,5 milhões de refugiados afegãos. Grande parte da nova geração nasceu lá e nunca esteve no seu país.»



 (texto retirado da introdução do filme)

sexta-feira, 28 de agosto de 2020

 

ESFORÇO


Fizeram um acordo. O primeiro deles a morrer regressaria para contar o que tinha visto. Um deles depois perguntou: e se depois de mortos não virmos nada? achas que devemos regressar para contar que não vimos nada? Mesmo que não haja nada para ver depois da morte eu, pelo menos, vou fazer um esforço para regressar. E acho que tu devias fazer o mesmo. E ficaram assim combinados. Cada um deveria fazer um esforço. Mesmo que na morte não houvesse nada para ver.


                                                                                                                         

                                                                                               Miguelsalgado, vidro duplo

sexta-feira, 31 de julho de 2020

Dornenreich - "II", "III" e "VI"


Os títulos acima são 3 temas da banda austríaca Dornenreich. Fazem parte do álbum «Durch Den Traum» (2006)








Foi andando ao acaso.
Passou um bosque.
O tempo enevoado deixou-o
vaguear. Não era necessário
dirigir-se para coisa alguma.
Foi andando ao acaso
perdia-se pelos campos
pela água da noite.




JOÃO MIGUEL FERNANDES JORGE, O Regresso Dos Remadores








terça-feira, 2 de junho de 2020

Eva Christina Zeller - "Sigo a Água" (1996)






Escritora nascida em 1960, em Ulm, Alemanha, Eva Christina Zeller publicou o seu primeiro livro em 1981, tendo este, "Sigo a Água", saído originalmente em 1988 (com o título: Folg Ich Dem Wasser). Uma obra onde a morte e um quase omnipresente sentimento de desilusão e tristeza fluem inexoravelmente como as águas de um estige.



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No fim é a terra
a pôr-te a mão em cima
com flores e laços
e para isso o caixote
para que não fujas
para o céu para o azul
por baixo de ti
ou para dentro da erva
dentro do caixote
ficas apertado
e só

onde está o caixote para dois
como as camas duplas
os olhares
os clamores dia após dia
até ao fim
o casamento de preto
e as flores
espalham-nas atrás de ti
depois de ti na cova 
quando a terra te
põe a mão em cima



EVA CHRISTINA ZELLER, Sigo a Água



(editora: relógio d`água)

sexta-feira, 6 de março de 2020

"Magical Girl" ("Rapariga Mágica") - Carlos Vermut (2014)



 
 
 
 
 
Qualquer chuva miudinha abala a casa
que resiste ao tufão
à tempestade;
qualquer frio penetra porta, muro, escada
e corrói a força das paredes
em estruturas de pedra bem assentes;
qualquer vento apaga a chama na lareira
onde a lenha se cansa de ser brasa
e onde a angústia das cinzas já habita.
 
Na casa, forte e frágil, vulnerável
onde o jogo da morte se exercita.
 

 
 
LUÍSA FREIRE, Ciclo de Cal

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2020

Zemial - "Nykta" (2013)



1. Ancient Arcane Scrolls  (07:36)  
2. Eclipse  (06:40)  
3. Under Scythian Command  (02:55)  
4. In the Arms of Hades   (10:52)  
5. Breath of the Pestilence  (04:08) 
6. Deathspell  (04:01)  
7. The Small  (04:55)  
8. Pharos  (14:37)  
9. Out of the Cage   (04:32)


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Sempre para o centro da terra
onde os metais com sede
sonham devoradoramente
o sangue dos mineiros.


Queimando já a pele e os cabelos
nas combustões do enxofre, do granito,
desço alucinado
com pedra a ferver nos pulmões
e pedra em chamas a acender-me os gritos.


Como unhas de mercúrio fulgente
crescem-me dos olhos e dos dedos
nunca sonhados medos, nunca tanto
fulgor de lágrimas doentes.





CARLOS DE OLIVEIRA, Descida aos Infernos







quinta-feira, 2 de janeiro de 2020

José Viale Moutinho - "Ocasos de iluminação variável" (2005)

 

 
 
Ocasos de iluminação variável perfeitamente escuros.
 
 
 
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4.
 
 
As casas sobrepõem-se, vazias, nos centros históricos
das cidades. As casas apodrecem, povoam-nas o medo,
ratazanas e os perdidos passos dos que andam
pelos quartos alugados, dos que deixam pelos cantos
seringas, elásticos e limões espremidos.
Mancebos de passagem, envolvem a cabeça perdida
em toalhas molhadas e escondem os braços picados.
 
As casas perdem os seus números, abandonadas,
silenciosas, escuras. Os infelizes gatos negros
atravessam as portas sem almofadas nem história.
As aranhas lançam as suas teias horas a fio e a voz
de  alguém desliza, inaudível, descomposta, feia, rude.
 

 
 
 
JOSÉ VIALE MOUTINHO, Ocasos de iluminação variável
 
 

 
 
(editora: Editora Ausência)