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domingo, 16 de junho de 2013

Dilúvios


2.

Sonhei com um cavalo-marinho de boca aberta nas montanhas.

Estava morto mas mexia-se.

O vento empurrava-o e ele rebolava com a boca aberta.

Nas montanhas vi homens e mulheres a dançar.

Um homem solitário escavava no meio dos homens e das mulheres.

E os homens e mulheres continuavam a dançar.

Riam-se da morte.

E havia água enlameada que não parava de subir.

Tive então um desejo: meter o arco-íris na boca do cavalo-marinho e entrega-lo ao homem que escavava.

Mas vi o homem que escava a atirá-lo para a cova e a tapá-lo.

E a água enlameada chegou ao cume das montanhas. E continuou a subir. E submergiu.

O lugar ficou inundado de cabeças a tentarem manter-se à superfície. Ficou inundado de braços aflitos no ar.

Homens e mulheres que dançavam ficaram em pequenos sítios flutuantes e foram-se empurrando uns aos outros.

Até que ficou apenas um exemplar de homem e mulher que dançava por cada sítio flutuante:

TODOS MORREM DEVAGAR.



E o homem que escavava morreu antes dos homens e mulheres que dançavam.






Miguelsalgado, Escuro

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