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sexta-feira, 26 de julho de 2024


Elizabeth Bathory:


A noite são peles mortas como vampiros secos: de dia magoo-me nos fios de luz. Nunca rezei para que a parede fique em coma mas é esse o meu sonho. Hoje faço 1000 anos: amanhã 1001. Seguro uma balada fúnebre com os caninos domesticados. Há um murmúrio que castiga, uma tigela prateada que é desespero, como levantar-me e andar para trás e para a frente com piolhos sem sair do sítio: quando caio fico a ocupar a prisão toda. Queria mais sono e menos cheiro a excremento: a que distância está o meu caixão? Não atravesso as paredes no sono, nem da primeira vez em que andei de bicicleta vi o vómito nos atacadores da minha mãe: tenho saudades de ter alguém que me tire os piolhos. Quem se lava na banheira sai de lá com outro sangue, se saísse daqui queria uma limousine preta à minha espera: tenho ossos claramente paralíticos. Já nem vou aos cemitérios: nem atiro o peso do cadáver pela ribanceira. Quantas rugas ganhei desde que aqui estou? Estes braços ainda querem secretamente pegar em bebés, mas quem só tem parede à volta não se pode levantar a meio do pesadelo para ir ao parque: vou contar as estacas que revestem as paredes e deixo de buscar com os dedos algo de novo na cara: daqui a bocado vou ter as escleróticas vermelhas, mais um bocado e a luz cega: ficar sem saber o que é noite, o que é dia. Estas paredes permanecem: amplificam a casa do terror. Quantas rugas ganhei desde que aqui estou?




Miguelsalgado, AQUERONTE


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