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sexta-feira, 24 de maio de 2019

António Pedro - Antologia Poética (1998)








Autor multifacetado, a obra poética de António Pedro (1909-1966) permanece, tanto quanto julgo saber, muito pouco divulgada. Esta antologia abarca não só a quase totalidade da obra em livro (ficaram de fora os dois primeiros livros, rejeitados pelo próprio autor), como textos publicados noutros formatos (revistas, jornais,…). Inclui uma ampla introdução biográfica e múltiplas notas complementares.


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IV
 
 
Agora minto como respira um tuberculoso.
 
A verdade deixou-me sem filhos, como uma pedra,
E deu-me um coração para morrer,
A epiderme vibrátil que se deslumbra
A cada táctil assomo,
Para morrer,
Esta ambição de Deus, que me sufoca,
Para morrer,
Esta esperança, esta ansiedade e estas mãos,
Para morrer,
Esta dor cá no fundo (só cá no fundo!)
Para morrer,
Tudo para morrer!
 
Ficou-me a imaginação como o bordão dum cego
E, agora, minto como respira um tuberculoso,
Inutilmente – para morrer.
 
 
 
 
 
ANTÓNIO PEDRO (do poema “Os sete poemas do tédio estéril”)
 
 
 




(Editora: Angelus Novus editora) 

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