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terça-feira, 12 de março de 2019

Àlex Susanna - "Bosques e Cidades" (1995)

 


 
 
 
Na introdução deste livro, por Rosa Alice Branco, pode-se ler:
 
“A poesia de Àlex Susanna é atravessada pela presença demolidora do tempo. Os seus poemas precipitam-se no nada, no vazio, na inércia, num vertiginoso trajeto do ser ao não-ser, que é a própria morte no seio da vida, o sem-sentido de um universo onde nada vale a pena – na irreversibilidade do tempo escreve-se a «menos-valia» de tudo quanto exista ou venha a existir.”
 
Àlex Susanna é um escritor espanhol nascido em 1957. "Bosques e Cidades" foi originalmente publicado em 1994.



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CONVERSAS NO BOSQUE


Passeamos por bosques que nos excedem
como por dentro de uma catedral,
uma gruta marinha de claridade incerta:
à deriva, caminhos como correntes
levam-nos onde querem
e damos voltas e mais voltas
sem saber onde vamos,
perdidos em nós mesmos,
mas envolvidos na penumbra,
cantos esvoaçantes e cheiros intensos:
todo o património destes grandes bosques.


As nossas conversas de súbito florescem
como esses cantos que sentíamos
embriagados de si mesmos,
e uma certa felicidade, intrusa,
infiltra-se em nós,
mas tudo o que floresce é logo espúrio,
e pouco a pouco sentimos por dentro,
como os seus frutos pesam
e caem, depois, rachados,
nesta terra sempre sombria
que nos mostra claramente
como tudo começa e acaba.




ÀLEX SUSANNA, Bosques e Cidades (tradução colectiva )



 
(Editora: Quetzal Editores)
 

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