Leonel Moura - "No futuro deitaremos fogo a tudo" (2000)
Leonel Moura (n. 1948), artista plástico, escritor, tem alcançado algum reconhecimento através da chamada arte robótica (escreveu peças de teatro e fez exposições com robôs), mas este "No futuro deitaremos fogo a tudo" (descrito pela edição como "romance breve") é, julgo eu, outra coisa, está noutra latitude. Digo julgo eu, pois é, até agora, o único (e feliz) contacto que tive com a obra do autor.
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Os vários canais mostram a mesma cena mas de diferentes ângulos, o que permite com o zapping ver o fogo como um holograma. A meio da encosta da Mouraria em subida para o Castelo, o magno incêndio alastra também para os lados. Explosões de botijas de gás ateiam labaredas em todas as direcções, carros de bombeiros esforçam-se sem êxito por penetrar no emaranhado de pátios e ruelas.
A miséria é sempre estreita.
Velhas aos gritos com as mãos agarradas à cabeça posam para fotografias que irão ser premiadas. Mesmo ao lado há quem tem atire panelas com água para cima de cinzas já inofensivas.
- O Chiado repete-se. - diz um intelectual que conquistou um enorme prestígio a dizer banalidades.
Mas é pior, há muitos mortos e muitas perguntas. Como foi possível?
A miséria é sempre estreita.
Velhas aos gritos com as mãos agarradas à cabeça posam para fotografias que irão ser premiadas. Mesmo ao lado há quem tem atire panelas com água para cima de cinzas já inofensivas.
- O Chiado repete-se. - diz um intelectual que conquistou um enorme prestígio a dizer banalidades.
Mas é pior, há muitos mortos e muitas perguntas. Como foi possível?
LEONEL MOURA, No futuro deitaremos fogo a tudo
