Etiquetas

sexta-feira, 20 de dezembro de 2024

 

XIV


Colapso nas unhas de Narciso
que faz zapping sem encontrar imagens às quais se fixar 
Alice ao espelho e do outro lado não há nada
e no entanto Galileu estende um lençol no caixão
giramos velhos tristes à volta do sol infantil com cara contente
a revolução acaba
o sonho em Lavoisier escondido na bouça louca
caímos tortos na banheira pequena onde Marat esgadanha
somos Melusinas a esconder deficiências
a água que segue suja pelos andares abaixo
o ouvido na canção monocórdica vinda do andar acima
Ícaros em queda livre desde o nascimento
para o fantoche alinhado na rocha dos Torajas
Krakatoa expele tripas doces
Vasco da Gama mutila o sal da goécia
a madeira no convés corada
respiramos maresias repletas de escravos em cadeiras giratórias
para atirar borda fora O navio negreiro de Turner
desaparecer na mesma névoa que engole o Graal
Nietzsche dinamita-se crucificado 
está o pensamento na mesma névoa que engole Avalon
o Génio da Lâmpada não pontapeia Mordred
o Corno de Amalteia não cai na nossa varanda
pedalamos como pulgas de Pan-Gu para o pêlo de ratos sem encosto
enquanto Aton bate a punheta da vida
morrer a cair na solidão destas esquinas erguidas por Chirico
caminhar na praça onde a pomba da paz caga no âmago dos mortos.




Miguelsalgado, AQUERONTE