Eduardo Valente Da Fonseca - «Os criptogâmicos» (1973)
Criptogamia, s. f. Qualidade das plantas que não dão flores
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Os aquários gigantes
A cidade ao domingo ficava petrificada. As pessoas vinham inundar os cafés de sono. Ficavam horas com os cotovelos a furar as mesas. Olhavam para o exterior com olhos grandes e parados, como peixes imóveis num aquário gigante. Odiavam, mas o ódio não se via. Viviam como se um grande castigo os impedisse de levantar o braço para apontar uma arma à cabeça ou levar um tubo de comprimidos à boca. Não sonhavam. Apodreciam sem rumor como os detritos que vivem nas zonas sombrias das grandes florestas. Obedeciam freneticamente ao bolor. Amavam a traça e o pó. Viviam fantasmagoricamente de obediência. Eram todos tão desgraçados que já nem sequer despertavam piedade.
EDUARDO VALENTE DA FONSECA, Os criptogâmicos
(Editora: Paisagem Editora)
sábado, 17 de setembro de 2016
Paatos - "In that room", "Absinth minded" e "Téa"
"In that room", "Absinth minded" e "Téa" são três composições da banda sueca Paatos. Pertencem aos álbuns «Breathing» (2011), «Kallocain» (2004) e «Timeloss» (2002), respectivamente.
Alguém percorre o mundo ciente que o invisível é a resposta Alguém chora
"O silêncio, o que é o silêncio? Perguntei ao mestre. – Uma floresta cheia de ruído."
CASIMIRO DE BRITO, Onde se acumula o pó?
terça-feira, 14 de junho de 2016
Funeral - "In Fields of Pestilent Grief" (2001)
1. Yield to Me (7:07)
2. Truly a Suffering (4:33)
3. The Repentant (6:41)
4. The Stings I Carry (5:40)
5. When Light Will Dawn (8:34)
6. In Fields of Pestilent Grief (1:45)
7. Facing Failure (6:13)
8. What Could Have Been (3:42)
9. Vile are the Pains (5:49)
10. Epilogue (4:29)
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"Este horror de acordar – este era o saber; e exalava um sopro que parecia gelar as próprias lágrimas que lhe marejavam os olhos. Mesmo assim, tentou fitá-lo por entre as lágrimas, retê-lo, segurá-lo à sua frente para poder sentir a dor. Ao menos isso, embora atrasado e amargo, trazia algo do sabor da vida. Mas a amargura provocou-lhe uma náusea súbita; e foi como se visse horrivelmente na realidade, na crueldade da sua imagem o que fora destinado e cumprido. Viu a Selva da sua vida e viu a Fera; e percebeu, talvez pelo movimento do ar, que se erguia vasta e horrenda formando o salto para terminar com ele. Escureceram-lhe os olhos – estava próxima; e naquela alucinação voltou-se instintivamente para lhe fugir e atirou-se para cima da campa de cara para a terra."
HENRY JAMES, A Fera na Selva (tradução de Maria Teresa Guerreiro)
terça-feira, 24 de maio de 2016
"Gigante" - Adrián Biniez (2009)
A tentativa de aproximação a alguém de que se gosta pode ser uma luta épica. Filme trágico-cómico do realizador argentino Adrián Biniez.
quarta-feira, 27 de abril de 2016
"Gypo" - Jan Dunn (2005)
Noite. A sua lava protege
as puras silhuetas do fogo
e as mais acres obsessões.
É a primavera das sombras
que um fio de golpe divide
na súbita face do amor
no rosto agreste da ira.
Habitamos os dois lados
dessa lâmina intranquila
que abruptamente ilumina
as horas em estilhaços.
JOSÉ ANTÓNIO GOMES, A força da fuga do olhar
quinta-feira, 31 de março de 2016
Communic - "Raven`s Cry"
"Raven`s cry" é uma composição da banda norueguesa Communic. Integra o álbum "Payment of Existence" (2008)
"Um terror confuso, imenso, esmagador, pesava na alma de Duroy, o terror desse nada ilimitado, inevitável, que destruía, indefinidamente, todas as existências tão rápidas e tão miseráveis. Curvava a fronte sob essa ameaça. Pensava nas moscas que vivem algumas horas, nos insectos que vivem alguns dias, nos homens que vivem alguns anos, nos mundos que vivem alguns séculos. Que diferença, no entanto, entre uns e outros? Algumas auroras a mais, eis tudo."
GUY DE MAUPASSANT, Bel-Ami (tradução de Jaime Brasil)
terça-feira, 23 de fevereiro de 2016
João Coutinho e Castro - "Ecologia desesperada"
Um grito à destruição cega da vida. Retirado do livro «O tempo os Lugares», de 1987.
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ECOLOGIA DESESPERADA
morre a vida
os peixes morrem na água a água morre primeiro morrem as aves que bebem a água morte corrente a cada um a radioactividade o cancro a que é obrigado nesta guerra de extermínio e rapina os omos lavam mais branco mas é preciso gritar quanto custa e quando lavam o que levam
berlim, setembro de 1982
JOÃO COUTINHO E CASTRO, O tempo os Lugares
terça-feira, 2 de fevereiro de 2016
"A Cidade dos Mortos" - Sérgio Tréfaut (2011)
Visita de contornos surreais a um cemitério onde os vivos habitam lado a lado com os mortos.
terça-feira, 19 de janeiro de 2016
Terry Winter Owens - "Exposed on the Cliffs of the Heart" (2000)
1. Exposed on the cliffs of the heart (9:33)
2. Ariadne`s Crown (10:49)
3. Tocata (10:55)
4. Rendezvouz with Hyakutake (10:37)
5. The Rapture of Beta Lyrae (11:32)
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A compositora
Terry Winter Owens (1941-2007) é uma compositora norte americana nascida em Nova Iorque. Começou a compor desde muito nova, influenciada por compositores como Chopin, Schumann e Liszt. Entre as suas composições contam-se obras para piano, orquestra, câmara e vocal. Compôs também para cinema. Foi pianista, violinista e professora de composição.
«Exposed on the Cliffs of the heart»
«Exposed on the cliffs of the heart» reúne composições para piano solo, uma das quais tocada a 4 mãos. Compostas entres 1990 e 1998, e inspiradas em diferentes temas (à excepção, creio, da Tocata), formam um álbum perfeito, repleto de beleza obscura, emocionalmente profundo.