"A Palavra Interdita" (2011)
“Os homens não o podem ser se
não forem livres” (Salvador Espriu)
E quando o desespero
vier bater à tua portalevanta-te, escreve uma mensagem simples
na parede:
ESTE HOMEM ESTÁ DESEPERADO
A tua cela não é mais estreita que a sua sepultura,
nem mais duradoura que a sua vida.
Há-de chegar o dia em que a terra
também há-de acolher o seu cadáver,
primeiro os pés
com o esquecimento a acompanhar o funeral.
Tradução de Maria de Lourdes
Guimarães
Miklós Radnóti: Nasceu
na Hungria em 1909. Estudou na universidade de Szeged e visitou inúmeras vezes
Paris. Passou os últimos anos da sua vida em campos de trabalho. Judeu e
antifascista, foi levado pelos nazis para as minas sérvias de Bor. Depois de
uma marcha forçada, foi abatido pelos guardas nos finais de 1944. Quando o seu
corpo foi exumado, encontraram um bloco de notas com o resto dos poemas que ele
tinha iniciado em 1930.
Eu caíra a seu lado, o seu corpo convulso
era como uma corda tensa, pronta a estalar.
Um tiro na nuca. “Terás igual destino”,
murmurei para comigo, “basta jazeres em paz”.
Floresce morta agora a paciência.
De cima soou: “Der Springt noch auf” (“Esse ainda se levanta”)
Secavam lama e sangue na minha orelha.
Tradução de Zoltán Rózca,
versão de Teresa Balté